
A Cultura Nordestina
E a Arte Popular
A marca da nossa História
As coisas deste lugar
Pouco a pouco vão sumindo
Eu resolvi protestar
Não se pode aceitar
Como as coisas tão ficando
A arte de nossa terra
Aos poucos se acabando
E um povo sem cultura
Pra extinção vai marchando
O que venho observando
Nesta terra de Teixeira
É a falta de atenção
Pra cultura verdadeira
E a arte importada
Mantida na dianteira
Não pense que isto é besteira
Vou lhe dar explicação
Além de muito rock
Metalice e zoação
É bem pequeno o espaço
Para o nosso bom baião
E a aculturação
Vem com força tenha dó
Trio Duro na parada
Marcianas e Xororó
E se diz que é sertaneja
Nosso sertão é forro
Amarga que nem jiló
Quando é de madrugada
Eu ligar o meu radinho
Só escutar caipirada
Em qualquer uma estação
Tal cantiga combinada
A tarde a mesma zoada
Que entristece e não consola
Iguatu não é São Paulo
Goiás ou outra escola
Que saudades dos repentes
Canção, galope e viola
Pra não pedir esmola
Zé Ferreira foi embora
Lourival ta vai não vai
Tá no apertar da hora
Só canta quando viaja
Ou trás cantador de fora
Patrocínio sem demora
Divulgação bem legal
Pro garotos que imitam
Outros da América Central
Remexendo o bumbum
Etc e coisa e tal.
Eu pergunto afinal
Isto tá certo ou errado
Qual o real interesse
Ou quem paga o recado
Este povo é sem cultura
Ou tá sendo alienado
Os costumes de outro Estado
Ou mesmo do estrangeiro
Tem seu valor e lugar
Mas o Nordeste primeiro
Galo que nega sua raça
Vai pra fora do terreiro
Nosso sertão brasileiro
Mote, toada e repente
Coco de roda e baião
Vaquejada e aguardente
Cordel do nosso lugar
Cantiga de nossa gente
É necessário e urgente
De todos, nova postura
De quem tá no microfone
De quem produz a cultura
De quem tá pagando o som
De quem tá na prefeitura
Pra nossa vida futura
Peço a proteção Divina
Que nos livre do Japão
Abençoe a nossa sina
Viva a Arte Popular
E a Cultura Nordestina.
Ruy Rodrigues
Nota da 2ª edição: Este cordel foi produzido e editado
originalmente em Iguatu-Ce no ano de 1988. De lá pra cá, pra nossa tristeza,
pouca coisa mudou no campo da valorização da Cultura Popular.
2ª edição: Maceió (Al), Abril de 2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário